sábado, 12 de novembro de 2011

Eu não acredito em contos de fadas: Considerações a respeito do meu conceito de história.

                                                                                                                            Por: Estevam Machado

Já estou cansado de me ver perguntado, tanto pelos meus amigos como por mim mesmo: mas afinal, o que é história? E quando tento me explicar sou bombardeado de réplicas que me fazem repensar algumas posições, porém tenho uma idéia nuclear que não consegui tirar da minha mente, talvez seja por causa de que eu realmente acredite nisso: a história é ciência.
            Os novos historiadores, dentre eles os historiadores artistas, teimam em ser dicotômicos creditando aos defensores da cientificidade ora uma ingenuidade que não perceba as tensões entre as classes ora uma forma maquiavélica de maquiar, de velar essas ditas tensões, a serviço da força manipuladora das classes dominantes. Os defensores da cientificidade, ou são ingênuos ou estão a serviço “do mal”.
            Isso porque os inimigos da cientificidade encaram tanto a universidade, como toda a sociedade num geral como um grande restaurante, em que eles são garçons que servem ideologias a torto e a direito.
            E ponho-me a defender minha posição mais uma vez: não sou adepto à questão da simpatia à maneira agostiniana: “Et nemo nisi per amicitian cognocitur” ( Não se pode conhecer ninguém a não ser pela amizade ), instituindo assim uma relação harmoniosa, passiva entre o eu e o outro, o sujeito e o objeto, o historiador e a fonte. Nem tampouco a tristeza se abateu sobre mim quando tive que ressuscitar Cartago como falou Flaubert: “Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour ressusciter Carthage” ( poucas das pessoas compreendem o quanto tenho estado triste por ressuscitar Cartago).
            Porém mesmo não sendo adepto da questão da simpatia, não considero o espírito radicalmente crítico, sendo assim faço minhas as palavras de Marrou:

“Uma tal exacerbação do espírito crítico, longe de ser uma qualidade, seria para o historiador um vício radical,que o tornaria praticamente incapaz de reconhecer o significado real, o alcance, o valor dos documentos que estuda”[1]

           
No meu primeiro texto: A cientificidade da história – Refutações das ideias dos “historiadores artistas”, ao chamar os autores Nietzsche e Foucault de negacionistas, estava tentando explicar que principalmente o primeiro é um autor crítico aos moldes de que Marrou explica: “A crítica consegue demolir o edifício provisório de um conhecimento imperfeito, formula exigências úteis à reconstrução ulterior, mas em si mesma pouco contribui[2]. Até porque é mais fácil dinamitar uma construção do que erguê-la. 
Marrou entende a simpatia como estado construtivo e a crítica como a etapa destrutiva e é nessa relação dialética construção-destruição que  história se faz, como conquista progressiva do conhecimento do passado:

“Se o espírito crítico e a simpatia não são em si mesmos contraditórios, falta que estas duas virtudes sejam sempre fáceis de conciliar, que se encontrem igualmente representados no espírito de cada sábio. Mas a elaboração da história é o fruto de um esforço coletivo e os excessos de uns vêm corrigir as deficiências de outros. É útil ao progresso de nossa ciência que uma crítica exigente, e até mesmo injusta, venha despertar uma simpatia sonolenta prestes a deslizar para a complacência e para a facilidade.”[3]  

            E o amigo leitor deve estar se perguntando o porque do título? Entendo a história como um processo de racionalização do passado em que o historiador, está no meio tentando administrar o processo simpático em consonância com o processo crítico. Como dizia Aristóteles há muito tempo atrás, a virtude está no meio. E isso se adéqua a vida como também ao ofício de historiador.        





[1] Marrou, H. I. Do conhecimento histórico.3ª Edição. Editorial Aster, Lisboa, P.87
[2] Marrou, P. 89
[3] Marrou, PP. 88-9

2 comentários:

  1. Hehe! Tem volta Maroto! Vamo nessa escrever mais! Que ta massa.

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  2. O espírito do blog é este levantar debates e tomar posicionamentos: Vamos botar isso pra frente e escrever mais!

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