Por: Estevam Machado
Teimo, portanto em me perguntar: Por que escrevemos história? Qual motivo, o sentimento que nos move a narrar sobre o que muitos não se interessam em ouvir? Reflito sobre este fragmento de Löwith:
“O futuro é o ponto nuclear da história, pressuposto que a verdade assente no fundamento religioso do ocidente cristão, cuja consciência histórica é determinada pelo motivo escatológico: de Isaias até Marx, de Santo Agostinho até Hegel, e de Joaquim até Schelling. A significação dessa direção do olhar voltado para o fim último, como fins e como telos consiste em que ela proporciona um esquema de ordem progressiva e de dotação de sentido que pôde superar o antigo temor do fatum e da fortuna”[1]
As religiões e ideologias estão cada vez mais desacreditadas, assim os sentidos creditados por elas à história caem por terra diante de investigações racionais. O sentido teleológico da história, desacreditado, nos força a pensar em novas possibilidades, estamos entregues à fortuna, ao acaso, e o medo tem de ser superado com a nossa razão iluminadora.
Escrevemos história não pelo passado, nem pelo presente, não sentimos os sentimentos dos antigos, nem nossa vida no presente nos dá muitos subsídios para querer escrever o que muitos não querem ler – e não há frustração maior do que ser um escritor não é lido –, escrevemos história por que temos esperança.
Temos esperança de legar aos nossos descendentes o que ainda não foi comido pelas traças, nem destruídos pelos poderosos, transmitimos aos que virão a nossa memória e a memória dos antigos. A história é uma prova de amor às novas gerações, lembro, portanto, de Antônio Paulo Rezende: “A história é escrita para que o amanhã aconteça. Ela é semente e ousadia diante das subtrações que se aceleram nos instantes de velhice.”[2]
[1] LÖWITH, Karl. Weltgeschihte und Heilgeschehen. Stuttgart, Berlin, Köln, Mainz: Koohlhammer, 1979, p.125s.
[2] REZENDE, Antônio Paulo. Ruídos do efêmero: histórias de dentro e de fora. Editora universitária UFPE, 2010