terça-feira, 13 de março de 2012

Arquitetura da Destruição – A Arte da Guerra


Rafael Santana Bezerra



            Se um dia fosse possível fazer uma história das ideias globalizantes perceberíamos como ela estaria repleta de violência e sangue. A II Guerra Mundial foi o palco onde mais uma proposta de perfeição revelou a catástrofe das ideologias etino-centristas. O Nazismo mergulhou no engano de absorver as máximas do progresso técnico ao mundo social e orgânico. Arianismo na Alemanha do inicio do Século XX era sinônimo de pureza.

            A proposta política e social do nazismo era claramente estabelecida. A limpeza racial era o motor do desenvolvimento humano e econômico, eliminar os judeus e os incapazes era essencial para retirar da Alemanha o seu status coadjuvante no panorama mundial. O Arianismo foi se constituindo como o modelo de homem perfeito, é a ideia da perfectibilidade do gênero humano. Hitler aliou-se a uma gama de cientistas, arquitetos, músicos, médicos, juntos construíram um projeto de um novo Império Alemão. Criou-se uma medicina que desejava afastar do corpo perfeito os males contagiosos, eliminar os incuráveis.

            O Expressionismo revelava ao mundo os seus próprios problemas, é a arte do mal-estar da civilização, é a expressão da dor, da guerra, da desilusão ante o progresso técnico e cultural. Aos nazistas o Expressionismo ganhava o caráter de arte degenerada, era a produção dos não racionais, dos incapazes, dos judeus, dos sujos, dos não arianos, uma arte que deveria ser banida de todo o “império germânico”, a contaminação através das imagens pintadas pelos “alienados” era perigosa e colocava em risco o projeto de uma nova e superior Alemanha. 

A fantástica histeria do povo alemão foi fruto, sobretudo, das incisivas políticas de propaganda do partido nazista. Hitler mostrava aos alemães que o futuro era uma catástrofe singular, e que o nazismo era a única saída vitoriosa, eles eliminariam os impuros e retirariam os arianos da decadência. O documentário sueco do diretor Peter Cohen percorre essa estratégia metodológica de recriar a mentalidade do povo adepto às ideologias nazistas através das antigas propagandas. Os Judeus eram denominados ratos e deveriam ser destruídos, eram responsabilizados pela desonra, pela sujeira, pela destruição da civilização germânica.

A luta de classes deveria ser banida do mundo econômico, a ideação do bem-estar social germânico perpassava quase que inevitavelmente pela própria limpeza do trabalho. Condicionar ao proletariado alemão condições de limpeza, salários, resumidamente, desejava-se o fim das insatisfações trabalhistas a partir da purificação do trabalho.

            “Arquitetura da Destruição”, antes de se constituir como um documentário de análise político-econômico da II Guerra Mundial é uma bela sugestão de inovação metodológica para a escrita da história. O filme analisa os projetos arquitetônicos de Hitler, as suas preocupações com uma definição de belas artes, de uma maneira geral, denúncia às inquietações nazistas com a estética.

Uma gama de material projetado por Hitler é revelada no filme, ela nos dá a sensação de uma contrariedade histórica, nos, propõe, salve as incertezas do acaso, “o que poderia ter sido”. As plantas arquitetônicas demonstram o desejo do grande império, talvez, os escandalosos monumentos configurem-se como o simbolismo da vitória, da perfeição. O documentário é uma bela narrativa das utopias, dos desejos sádicos e imperialista do mundo nazista, é uma descrição dos projetos, das intenções, das mentalidades.

O filme, entretanto, cai no erro de ignorar o ódio dos nazistas pelos comunistas e partidários de esquerda. Estes foram juntamente com homossexuais, deficientes, negros, ciganos, judeus, alvos do projeto de pureza. A limpeza orgânica misturava-se com as abstrações políticas, fazia-se na realidade uma limpeza à contrariedade da ordem nazista e burguesa. O título de artista frustrado para Hitler é um eufemismo à sua arte de destruir.  

            O documentário de Peter Cohen nos propõe, talvez, muito implicitamente os perigos da má interpretação do conhecimento histórico. Hitler mergulha numa empatia perigosa pelas civilizações gregas, romanas e espartanas, uma simpatia que privilegia as ações militares e universalizantes desses povos. Este é, quem sabe, o maior perigo do historicismo, apaixonar-se pelos vencedores e basear-se nas mesmas atrocidades do passado.