sábado, 12 de novembro de 2011

Diálogos com a TV ligada

Matheus Martins
O que é criar algo novo? Como realmente perceber que as ideais correspondem a um turbilhão de inovações, a um desconhecido? O pretexto da inventividade percorria-lhe a mente, enquanto sentado em frente ao computador, tecia comentários anacrônicos e simuláveis.
Confuso, ficara imaginado perder-se no tempo como uma imagem de Dali que, a pouco, vislumbra em um texto amigo. Cada segundo esparso daquela noite de sábado lhe parecia curioso demais para ser confidencial. Por que perder aquele instante, jogado no amontoado de idéias descartas e “esquecidas”? Esquecer, engraçado, era o que mais o fazia lembrar. As dúvidas e inquietações que nos primeiros ouvires dicotômicos lhe rompiam as sensações de completude. E aquela velha história que concebia, já não caminhava mais com ele. Talvez estivesse lá, no amontoado descartado.
“Só penso”, era isso, mais uma vez o amigo lhe influenciava. A história, quiçá, nem exista. Ela só é simplesmente pensada. Como um sonho, a história se mostrava uma projeção daquele inconsciente, o qual conhecera através das leituras de Freud. A história é sonhada, é desejada. Conseguia imaginar aquilo. Até mesmo lhe parecia plausível. Mas como prová-lo? Como destruir, ou desconstruir, “cientificamente” (que ironia) a cientificidade da história?
Poder e saberes, suas relações com a dominação constituída; aquilo não era seu. Não digo seu, de autoria, até mesmo por que todo esse emaranhado de redes de força, só lhe era apreensível por lentes, alheias até mesmo ao seu maior divulgador. Ou seja, usar de Foulcalt seria imitar, por demais, os seus interlocutores. A televisão ligada começava a lhe tomar atenção. Mas, não queria perder o entusiasmo. Era esse o seu diferencial, parecia mais um artista, cuja performance depende completamente do vôo da inspiração.  Por isto mesmo, essa era a visão que possuía da historiografia.
Passava por sua mente, uma vez mais, as críticas de alguns professores. Como era possível? Senhores já tão estudos e aparentemente dinâmicos, mas com a cabeça tão lacrada para novas perspectivas? A análise literária é totalmente dependente da historiografia para sua contextualização, porque a análise histórica só recorre a literatura como um curiosidade, um supor micro, ligado somente as relações artístico culturais.
A televisão ligada lhe fez advertiu, há ouvintes que pensam os filmes históricos narrativas fiéis, verídicas aos fatos como eles de fato ocorreram. “Erro de Crasso”.  A literatura tão pouco o era, mas sua importância não seria aquela. Nela – acreditava – estava contido, de forma bruta, o sistema de raciocínio, o pensamento de seu escritor; que neste era inscrito pela sua época, sua vivencia, seus sentimentos. Lugares, sensações... Tempo, idéias... sua história, bruta; pronta para ser sonhada e desejada, como um lapidador sonha a jóia antes de trabalhar o mineral.
Instantaneamente, se fez incompreendido, como se pode refletir que tanto filmografia quanto literatura, não reproduzem o passado em sua exatidão (longe disto); e simultaneamente, aspirar que a história o faça, ou que ao menos se aproxime desta tarefa, literalmente (e ironicamente) homérica.
Um olhar desconcertante, para um mundo que tão torto lhe incomodava, de tal maneira que mais lhe parecia um espelho. Violência se confunde com excitação, dialogava com as imagens do UFC. “O Brasil tem mais um campeão do mundo”, ria ao se contestar se o bairrismo recifense havia tomado as terras tupiniquins. Neste mesmo pensamento, sem perder muitas palavras (ao menos o sentido se conservara), entendeu como os marcos de factualidade histórica permeavam sua imaginação. Confessava para si mesmo, com muito pesar, que as âncoras eram necessárias, para que os veleiros da imaginação, não tomassem todos os rumos possíveis e impossíveis, se mantivesse estável tanto em tempestades como em calmaria.
Alguém riria muito com isto, algum dia. Mas, a tarefa de uma âncora, afirmou, não é segurar o navio eternamente, muito pelo contrário, bom navio é aquele que por muito resiste navegando. Como as obras de Dali ... Como o disco “Inédito” de Tom Jobim... A história deve ser desejada com calma, a espera de inspiração... Ser desejada, e evidenciada neste desejo. Não se fica em cima do muro. Não afirmar partido, não significa não ter partido, muito menos que não este não esteja presente no discurso. Tomou o CD de Jobim na mão, a tela simples lhe encantava de uma forma inexplicável. Concluiu que esta era a maior similitude que apreendera, daquele instante com a história: o enigmático e o indescritível , o arrebatamento do instante se expandindo em futuro, passado, presente...
Já era mais de meia noite; o sono lhe doía a cabeça, o teclado quente do seu portátil lhe suava as mãos. Estava decidido a deixar o texto por assim mesmo. Assim o fez...

Nenhum comentário:

Postar um comentário